quinta-feira, 20 de julho de 2017

Economia Circular 360°

Eduardo Atayde*
O Fórum Econômico Mundial reunido em Washington, promoveu, nos dias 26 e 28 de junho de 2017, a Cúpula da Economia Circular Sustentável, em parceria com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) e a Câmara Americana para o Comércio (Amcham), reunindo centenas de gestores públicos e privados globais.
O tema deste ano, Da Aspiração à Implementação, foca a aceleração da economia circular, identificando soluções para transformar a aspiração econômica em ações práticas, otimizando recursos, reduzindo o desperdício, acelerando a inovação e o desempenho. O Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, produzido pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, mostra que o número de profissionais criativos cresceu para 851 mil nos últimos dois anos.
Economia circular é um conceito econômico integrante dos princípios da sustentabilidade que contrapõe-se à economia linear baseada em “extrair-produzir-descartar”. Exemplos simples mostram que apenas metade da população brasileira, cerca de 100 milhões de pessoas, usa escova de dente (IBGE) que é trocada, em média, quatro vezes por ano, gerando impacto ambiental porque o plástico descartado dura até 400 anos.
A Intel, fabricante de chips de computador, por exemplo, já estabeleceu o objetivo de reciclar 90% de seus resíduos não perigosos e retirar 100% de seus resíduos perigosos de aterros sanitários até 2020. A Johnson Controls projetou baterias automotivas reutilizáveis, fazendo as taxas de reciclagem de baterias pular para 99% e permitindo a produção de novas baterias contendo mais de 80% de material reciclado, com uma redução de 90% de energia.
A Ambiental Mercantil Expo Bahia, promovida recentemente na Bahia pela Federação das Indústrias (Cimatec), apresentou exemplos de economia circular implantada na Renault do Brasil e o aproveitamento de resíduos de madeira plantada com múltiplos usos. Estudos de casos revelam que a economia circular está sendo traduzida em ações lucrativas e escaláveis, utilizando da eficiência energética, logística reversa, manejo de resíduos e - na era digital - reanálises dos tempos e movimentos nos serviços. 
Programas 360 graus, lançados em cidades do mundo (goo.gl/VqGG2C), estão interconectando-se e “circoalimentando-se”. Enquanto a Honda informa que vai eletrificar 2/3 de seus carros nessa próxima década, o governo português lançou o programa “Gen10s” para capacitar 80% dos alunos com competências digitais até 2030. Segundo relatório da Fundação Ellen MacArthur, a adoção da economia circular pode garantir as empresas europeias faturamento de um trilhão de euros nos próximos dez anos.
Gestores do Programa 360°, lançado em Salvador (goo.gl/Fpbe48), poderão conectar-se com colegas da economia circular global que participam da Cúpula de Washington, aprendendo, além das inovações propostas, a resgatar os recursos descartados como lixo para abastecer o orçamento público da educação. Na economia circular, o lixo deixa de ser resíduo e passa a ser um valoroso insumo, reconhecendo que há valor em tudo.
Pesquisas em temas como esses e a elaboração de cenários para subsidiar programas e investimentos na chamada Sustentabilidade de Resultados fazem parte da missão do WWI-Worldwatch Institute e do World Economic Forum, em diferentes países, difundindo informações atualizadas, com fatos e dados, sobre governanças inovadoras adotadas pela academia e por gestores públicos e privados que estão, com inteligência nova, investindo no desenvolvimento econômico, social e ambiental a níveis local, nacional e global.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute - eduathayde@gmail.com

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Avenida Sete - Corredor cultural de Salvador

Nivaldo Andrade*
Construída na gestão do governador J.J. Seabra (1912-1916) para conectar dois dos espaços mais simbolicamente relevantes de Salvador – o Farol da Barra e a Praça Castro Alves –, a Avenida Sete de Setembro, com 4,5 km de extensão, é o maior símbolo da modernização de Salvador no início do século XX, seu projeto de futuro em ruptura com o passado. No trecho entre a Praça Castro Alves e o Campo Grande, o alargamento das ruas preexistentes para formar a nova avenida se fez através da demolição de quarteirões e de monumentos centenários, como a Igreja de São Pedro Velho e o Convento das Mercês.
Esse trecho da Avenida Sete – como é conhecida entre os baianos – se consolidou, nos anos 1960, como o principal eixo comercial da cidade, em contraposição aos demais trechos do mesmo logradouro, mais ao sul, que possuíam um caráter eminentemente residencial. O seu papel de destaque no comércio local, contudo, foi perdido ao longo das décadas seguintes, com o surgimento de uma nova centralidade urbana na região do Shopping Center Iguatemi e Avenida Tancredo Neves.
Por um lado, este trecho da Avenida Sete se constituiu, desde então, no principal corredor cultural da cidade, marcado, nas suas extremidades, por dois dos mais representativos teatros construídos no Brasil no século XX: o Teatro Castro Alves, inaugurado no Campo Grande em 1967, a partir de projeto de Bina Fonyat, e o Teatro Gregório de Mattos, na Praça Castro Alves, projeto dos anos 1980 da arquiteta Lina Bo Bardi.
Os dois quilômetros que separam estes teatros abrigam alguns dos principais equipamentos culturais da cidade, como o mítico Teatro Vila Velha, as salas do Espaço Itaú de Cinema (antigo cine Glauber Rocha) e o Espaço Cultural da Barroquinha, instalado em uma antiga igreja arruinada.
Para efeito de comparação, trata-se de uma distância menor que os 2,4 quilômetros que separam a JAPAN HOUSE São Paulo e o Instituto Moreira Salles, na Avenida Paulista, em São Paulo, ao longo dos quais podemos encontrar outros espaços culturais, como a Casa das Rosas, o Itaú Cultural, o Museu de Arte de São Paulo e o Centro Cultural FIESP.
É, igualmente, uma distância menor que os 2,5 quilômetros que, no centro do Rio de Janeiro, separam o Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, da Praça Mauá, onde se localizam o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã, em um percurso que passa ainda pela Biblioteca Nacional, pelo Museu Nacional de Belas Artes, pelo Teatro Municipal e pela CAIXA Cultural. Com curtos desvios, este roteiro poderia incluir ainda os Centros Culturais Banco do Brasil e dos Correios, a Casa França-Brasil e o Paço Imperial.
Voltando a Salvador, desviando poucos metros da Avenida Sete, no trecho entre o Campo Grande e a Praça Castro Alves, é possível encontrar outros equipamentos de igual importância, como o Teatro Gamboa, o Museu do Traje e do Têxtil, o Gabinete Português de Leitura, a Biblioteca Pública do Estado, o Museu de Arte Sacra e a CAIXA Cultural. Se não fosse o desnível de aproximadamente 60 metros, também seria possível, com um rápido desvio, chegar ao Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), no Solar do Unhão, outro projeto paradigmático realizado por Lina Bo Bardi em Salvador. Se ampliarmos um pouco o percurso de dois quilômetros em direção norte, chegamos ao Centro Histórico de Salvador, Patrimônio Mundial pela Unesco.
Apesar da sua importância comercial e cultural, caminhar pelo trecho Campo Grande-Castro Alves da Avenida Sete é, hoje, um tormento, pois a prioridade é do automóvel. Os passeios esburacados e ocupados por ambulantes, postes e telefones públicos não dão conta do fluxo intenso, e atravessar a avenida é uma tarefa inglória, devido ao disputado estacionamento contínuo ao longo da via, que cria um verdadeiro muro entre a calçada e a leito carroçável com três faixas de tráfego.
A Prefeitura de Salvador, através da Fundação Mario Leal Ferreira, executará um projeto de requalificação nos próximos meses que prevê o alargamento dos passeios do lado esquerdo da via, que passarão a ter 5 metros de largura, mantendo a histórica pavimentação em pedra portuguesa. Esse alargamento será possível graças à redução do estacionamento ao longo da via, o que também facilitará a sua travessia.
Apesar do acerto da proposta da Prefeitura em priorizar o pedestre em detrimento do automóvel, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador tem demonstrado preocupação com a redução significativa do número de vagas de estacionamento sem que sejam previstas soluções alternativas, como edifícios-garagem, para abrigar os automóveis que hoje estacionam ao longo da via. A intervenção recentemente realizada pela Prefeitura na Barra, eliminando o estacionamento ao longo da via e transformando-a em via compartilhada, sem que tenham sido buscadas soluções para suprir a demanda de estacionamento, teve grande impacto no comércio local, o que pode vir a se repetir no trecho entre o Campo Grande e a Praça Castro Alves.
O projeto de requalificação da Avenida Sete, no qual serão investidos quase 20 milhões de reais, só poderá produzir os efeitos esperados se vier acompanhada de outras intervenções estruturantes. Além dos edifícios-garagem citados, devem ser destacados a instalação de uma linha de VLT conectando a Praça Castro Alves ao Campo Grande, como proposto em 2015 no Plano de Reabilitação Participativo do Centro Antigo de Salvador do Governo do Estado da Bahia, e a construção de um teleférico ligando o MAM ao Mirante dos Aflitos, a 150 metros da Avenida Sete, como já previsto em diversos planos e projetos. Somente juntando investimentos do Governo Estadual e da Prefeitura, assim como da iniciativa privada, será possível consolidar este trecho da Avenida Sete como principal eixo cultural de Salvador, sem perder seu caráter comercial histórico e tendo o pedestre como protagonista.
*Nivaldo Andrade. Arquiteto e urbanista, mestre e doutor (2012) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizou pós-doutorado na École d’Urbanisme de Paris / Université de Paris-Est. Professor da Faculdade de Arquitetura da UFBA. É um dos curadores do Congresso Mundial de Arquitetos, que ocorrerá no Rio de Janeiro em julho de 2020, organizado pela União Internacional dos Arquitetos e pelo IAB.
**Artigo publicado originalmente em Arq.Futuro - http://arqfuturo.com.br/

quinta-feira, 13 de julho de 2017

TRÍPTICO - tradição da arte em três gerações

Jenner Augusto foi destaque na renovação da arte moderna na Bahia e Sergipe. Com um traço que ressalta, entre muitos pontos, a vivência na terra sertaneja, o artista plástico, pintor, ilustrador, escultor e desenhista está com algumas de suas principais obras homenageadas na exposição Tríptico – A Arte em Três Gerações.

Promovida por seu filho e também artista plástico, Guel Silveira, e pelo neto, fotógrafo e marchand Zeca Fernandes, a mostra reuneo trabalho artístico das três gerações da família. De 11 de julho a 03 de setembro, no Salão de Arte Contemporânea do Palecete das Artes Rodin Bahia o público poderá conferir obras que perpassam por fotografias, desenhos e pinturas em um apanhado geral das suas carreiras.
Tríptico conta com um total de 81 obras dos três artistas. A mostra tem curadoria de Mario Brito e vai propor um diálogo com o universo cultural de Salvador – seus movimentos, cotidiano e formas a partir das pinturas e desenhos de Jenner e Guel e as fotografias e esboços das paisagens urbanas pelo olhar de Zeca Fernandes.
Família e arte
Mais do que mostrar peças que refletem as nuances da capital baiana, a exposição reafirma a tradição artística da família. Nascido em 1924 em Sergipe, Jenner Augusto teve uma carreira marcada pela pintura em estilo modernista. Transitando entre Aracaju, Salvador e Rio de Janeiro, o seu traço foi destacado em diversas mostras no Brasil e no exterior, tendo ilustrado também o livro Tenda dos Milagres, de Jorge Amado.
Guel Silveira aprendeu e herdou do pai a sensibilidade estética. Nome forte na arte contemporânea e abstracionista. Em um recorte abstrato, mostra uma paleta de cores inovadora, com marcas naturalistas e que também transitam entre o obscuro e o luminoso, apresentando nas obras elementos que transmitem movimento, com volume e profundidade.
Em Tríptico, Guel apresenta pinturas e dobras que se destacam justamente pelo gestual, com uma variação de cores, harmonia, uniformização e a presença de grandes formatos. “Trabalhei em muitos ateliês, fiz coisas com figuração, gravura e trabalhei com spray, mas a minha vontade sempre foi desfazer o desenho abstrato, desconfigurar, dar a possibilidade de o espectador criar em cima da obra”, afirma Guel, evidenciando a importância da participação do público para o sentido das suas obras.
Da terceira geração da família, o marchand Zeca, como é conhecido, sempre foi influenciado e estimulado principalmente pelo avô.
Cercado por tintas, pincéis e telas, ele desde cedo desenvolveu o gosto pelo desenho e também descobriu na fotografia uma nova paixão. Acostumado desde pequeno com o universo das artes, Zeca voltou seu olhar para o registro de paisagens urbanas, onde o lirismo e o senso estético nunca se afasta do seu propósito, retratando toda sua sensibilidade e redescobrindo novos horizontes.
Para Murilo Ribeiro, diretor do Palacete das Artes, onde a mostra ficará em cartaz até setembro, a exposição vai elucidar a importância artística e cultural de Salvador.
O Palacete das Artes é um equipamento vinculado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC)/Secretaria de Cultura do Estado (Secult-BA). Funciona de terça a sexta, das 13h às 19h; sábado, domingo e feriado, das 14h às 18h.
Sobre a exposição
Com obras de Jenner Augusto, Guel Silveira e Zeca Fernandes, a mostra apresenta o traço artístico de três gerações da família. Com 81 peças, são pinturas, desenhos e fotografias dos artistas em um diálogo e reflexão sobre o universo cultural e o cotidiano de Salvador.
Serviço
Exposição “Tríptico – A Arte em 3 Gerações” – com obras de Jenner Augusto, Guel Silveira e Zeca Fernandes
Local: Palacete das Artes Rodin Bahia
Rua da Graça, 284, Graça (3117-6987).
Data: de 11 de julho a 03 de setembro.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Ronda junina nos bairros

 Paulo Ormindo Azevedo*
Os bairros tradicionais de Salvador eram garrafões de uma só entrada, o que facilitava a coesão social. Em volta era o mato ou o mar. As festas populares são indicadores do sentimento de pertencimento comunitário em um bairro. Recordo-me do carnaval festejado nos bairros de Salvador, antes dele ser encampado pelo poder público e pelo mercado, fatiado e segregado por cordas e camarotes. O carnaval dos bairros acabou. Para minha surpresa, o São João, pouco comercializado, continua resistindo. Sai na noite de São João rondando a cidade para ver onde ele ainda é festejado. Nos bairros de classe média alta ele já não existe. Mas na Av. Beira Mar em Itapagipe, no Garcia, Tororó, Liberdade, Piripiri e outros bairros populares havia fogueiras, barracas vendendo comida e licores, vizinhos sentados nas calçadas jogando conversa fora.

Por que esta diferença? Não sou sociólogo, mas é sabido que nas classes altas o individualismo é mais forte e as carências menores. Na periferia, a comunidade se une para reivindicar ou amenizar a falta de saneamento, pavimentação e creches. Em suma, há um sentimento tribal de solidariedade. Há algumas décadas atrás, o rapaz que quisesse namorar uma moça de Itapagipe, tinha que ter muito amor e coragem para suportar as provocações da tribo local. Faço parte de alguns movimentos de defesa de Salvador e sabemos que são poucas as associações de bairros de classe média, ao contrário da periferia.  Quando elas existem, como a AmaBarra, é porque seus moradores se sentem molestados por políticas urbanas arrevesadas.

Há um fator urbanístico nessa estória. O antropólogo Roberto Damatta analisou a relação da casa com a rua em um livro esclarecedor. Nos bairros formados por casas as relações de vizinhança são muito mais fortes que em condomínios verticais. Nestes, os poucos condôminos que vão às assembleias é para reclamar do valor do condomínio ou pedir providência contra o cachorro e o som alto do vizinho. Piscinas, academias e saunas são pouco usadas pelos moradores, mas as imobiliárias continuam incluindo esses fetiches em seus lançamentos para vender apartamentos aos incautos.

Meu colega de profissão e jornal, Lourenço Mueller, há um ano teve a ideia de promover um sarau lítero-pictórico e etílico para fazer com que os moradores dos espigões de sua rua, na Graça, se conhecessem. Foi um sucesso, supostos mortos apareceram, separados descobriram que eram vizinhos etc. Espero que pelo menos agora eles se cumprimentem no elevador. Mas para que serve esta socialidade de vizinhança? Para termos uma trégua diária no stress e na competição do trabalho e da escola, para podermos fruir a urbanidade jogando conversa fora e vivendo um pouco mais.
* Paulo Ormindo Azevedo, é Arquiteto e  Professor Titular da Ufba

SSA, A Tarde de 02/07/17

domingo, 9 de julho de 2017

Luz e Sombra

Aninha Franco*
Dinamarca, Noruega e Suécia foram habitadas por vikings até a Idade Média.
A Dinamarca é a nacionalidade de Kurt Westergaard, aquele cartunista que criou um dos doze desenhos sobre Maomé, mais precisamente o que Ele usa um turbante em formato de bomba. 
A Dinamarca é o país de Karen Christence, a baronesa de Blixen-Finecke, conhecida e admirada sob o pseudônimo de Isak Dinesen, autora de A Fazenda Africana (1937), inspiração do filme Entre Dois Amores (1985) e de Anedotas do Destino (1958), com o melhor conto gastronômico que eu já li, A Festa de Babette, filme em 1987, Oscar de filme estrangeiro em 1988, entre outras obras admiráveis que ainda não são filmes. 
O italiano Eugênio Barba que reside no Planeta Terra tem domicilio na Dinamarca. 
O Google dissuade os brasileiros a morarem na Dinamarca por causa do idioma, do clima, das relações sociais, da comida e da xenofobia. E os aconselha a residir lá pela honestidade, confiança, segurança, liberdade sexual, igualdade de gêneros, sistema de bem-estar social, conforto sem luxo, felicidade coletiva, sustentabilidade e hygge, um comportamento raro no Brasil, que é evitar conflitos desnecessários e desgastantes para viver bem. 
O artista Christian Cravo é baiano, filho inquieto do artista Mario Cravo Neto (1947 a 2009) e de mãe dinamarquesa, com quem Christian morou na Dinamarca, criança, foi educado na adolescência e cumpriu serviço militar na juventude. 
Em 1997, estava em Salvador participando da Mostra de Fotografia Contemporânea Baiana - Ano III e em 1998 integrou o Arts Plastiques D’aujourd’hui com outros pintores, escultores e fotógrafos nas galerias J&J Dounguy, Vivendi, Modus, Debret, Magnan e Leonardo em Paris. 
Em 2000, fotografou os profetas que impediram o mundo acabar, que de acordo com as previsões acabaria em chamas em 31 de dezembro. Em 2001, estava fotografando no Haiti, o que resultou na exposição/livro Nos Jardins do Éden (2010), território do vudu e de terremotos de magnitude 7,0 na escala Richter, onde é forçoso ter muito mais fé para sobreviver do que no Brasil contemporâneo. 
Em 2015, fotografou Mariana e fez fotos com o poder de mostrar o que aconteceu lá no dia 5 de novembro de 2015. 
Christian Cravo é meticuloso quando escolhe o que fotografar e espetacular quando fotografa. 
Depois de morar nalgumas metrópoles do planeta, NY nos USA e SP no Brasil, inclusas, instalou-se na Província da Baía de Quirimurê para organizar a obra de seu pai no Instituto Mário Cravo Neto, e ficar perto do avô, o escultor Mário Cravo Filho, nosso Vulcano. 
Na Galeria Paulo Darzé mostrou a exposição Luz e Sombra com fotos de Christian na África, e livro da mostra. Se Isak Dinesen priorizou os humanos em seus livros de cenário africano, Christian fotografou outras espécies em Luz e Sombra, onças que lembram modelos inglesas, namoro de girafas, lindos leões despenteados e pássaros monárquicos. 
Zivé Giudice, que esteve com Christian em Arts Plastiques D’aujourd’hui, e que voltou à direção do MAM-BA por esses dias, estava na Paulo Darzé, ontem, sinalizando que artistas devem respeitar-se e proteger-se porque essa é a regra básica de sociedades evoluídas.
Aninha Franco é escritora, advogada, dramaturga e apaixonada pelas artes. 
Aos 25 anos, a escritora recebeu um dos mais importantes prêmios da época na Academia Brasileira de Letras e hoje reúne notas, recordações e bilhetes em uma estante chamada ‘casa da minha alma’.Com mais de 13.000 livros, 7.000 discos, 1.000 filmes e varios projetos capitaneados, Aninha mantem uma coluna diária no jornal Correio da Bahia, onde este artigo foi originalmente publicada.Entre todas as manifestações artísticas, ela considera a gastronomia como a mais importante, porque, segundo Aninha, além de agradar a visão, o olfato e o paladar, essa arte agrada também o estômago.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Christian Cravo volta à Bahia para dirigir Instituto Mario Cravo Neto

Kátia Borges - A Tarde
Acostumado desde criança ao  trânsito quase  cotidiano entre continentes,  Christian Cravo, 43, pretende  ficar na Bahia pelos próximos dois anos.  Tem pela frente   outras viagens, íntimas, familiares, igualmente continentais. Assim tem sido organizar  o  recém-formalizado Instituto Mario Cravo Neto, que pretende manter em evidência  o nome e a obra de seu pai –  morto em 2009, o fotógrafo baiano é considerado um dos mais representativos do país.  
As ações se darão a partir do  acervo doado  pela família ao  Instituto Moreira Salles em 2015 – cerca de 94 mil peças –, com a edição já prevista de três livros, exposições  e um grande  prêmio de fotografia, ainda em fase de formatação. Mas Christian é, sobretudo, um artista  de talento e assinatura própria. Desde que, aos 17 anos, decidiu-se pela fotografia,  vem construindo uma carreira internacional tão autêntica quanto sólida. Nesta quinta-feira (6), às 19h,  lança na Galeria Paulo Darzé, no Corredor da  Vitória, Luz e Sombra, seu novo livro, e inaugura exposição homônima, no qual a África se apresenta em toda a sua imensidão e selvageria. As imagens, ele diz e poucos sabem, o reconectaram ao  avó, o escultor Mario Cravo Júnior, hoje com 94 anos. É assim que compõe seu trabalho. Não por acaso,  está dedicado agora a um projeto que tem como tema a sua mulher, Adriana, e as três filhas do casal, de 14, 4 e 2 anos.  Nesta entrevista, Christian fala sobre  o legado artístico dos Cravos, memória – em especial, a releitura fotográfica que fez da tragédia em Mariana (MG) – e as ações do instituto que ora  dirige.  
Como está sendo a experiência de  revisitar  toda a obra de seu pai, Mario Cravo Neto, e dar um direcionamento ao instituto criado na Bahia para preservar a memória dele?
Olhe, essa... foi uma história que começou em 2009. Quando meu pai estava prestes a morrer, cogitamos pela primeira vez a ideia de criar  uma instituição para, primeiramente, abrigar a obra dele. Quando digo obra, este é um termo muito vasto, né? Cada pessoa pode pensar e colocar isso de uma forma diferente. Poderia dizer gestão dos direitos autorais dele ou chamar isso aqui de um QG para administrar as exposições, o nome dele de  forma póstuma. É o Mario Cravo Neto representado de forma jurídica numa esfera pós-vida ou numa esfera pós-morte. Mas vai muito além disso.  
Imagino que exista toda uma questão familiar envolvida nesse processo.
Quando se entra numa esfera familiar como essa a que eu pertenço, que já não é uma equação muito normal, entende? São três gerações. Você pode ter três gerações de artesãos, de advogados ou de técnicos. Mas, nas artes plásticas, aí já foge um pouco às regras, é uma equação mais difícil. São três gerações, e cada um teve seu lugar e sua importância – ou está tendo –, cada um teve sua função. Meu avô [o escultor Mario Cravo Júnior, 94 anos] pertenceu à burguesia baiana, é filho de um mundo que nunca sonhou com isso aqui. 
A importância dele foi  o rompimento com esse velho mundo, com o  velho padrão,  para iniciar uma história inteiramente nova. Depois dele, veio o meu pai e ele teve o desafio de ser o  primeiro a fazer um certo questionamento no qual estava embutida a ideia de seguir  uma carreira livre, porque  seguir uma carreira dentro de padrões preestabelecidos é bem mais leve e bem mais fácil. Mas meu pai seguiu  uma carreira livre, mesmo tendo  sobre ele o peso de herdar o  mesmo nome. Imagino como deve ter sido um peso para ele levar o mesmo nome e a  mesma carreira. Depois dele, então, eu vim. E  sou uma outra história completamente diferente da deles.      
E qual a ideia que norteia o instituto?
A minha ideia é que o instituto venha a ser um centro de referência para a memória  familiar. Eu posso dizer tranquilamente para você que nenhum dos três é maior que a trilogia.
Seu avô é um dos maiores artistas plásticos vivos da Bahia e do Brasil. Em sua opinião, qual o espaço que ele ocupa nessa trilogia? 
Meu avô é um grande artista, sem sombra de dúvidas,  um homem com muitos méritos, muitas virtudes e muitos defeitos também. Mas tem uma coisa que se sobrepõe a ele, que foi o fato de ele ter iniciado essa trilogia familiar. E a mesma coisa posso dizer de meu pai e de mim. Então é assim,   é isso que deve ser preservado, pois cada um tem sua história a contar. E penso que a minha família, como uma família de artistas, tem muito a contribuir, entende? Agora, estou falando aqui da expansão de uma vida, de três vidas, na verdade. Está começando de uma forma meio torta, começando pelo do meio, por aquele  que no auge da carreira faleceu. 
O natural seria começar pelo meu avô e então incorporar a obra de meu pai e a minha. Como eu disse, a ideia do instituto  é essa concentração desse elemento único pertencente a essa família. Mas não é tão fácil assim. Isso envolve questões familiares, envolve dinheiro, envolve espaço. Veja que por enquanto estamos aqui [uma sala no 20º andar de  um prédio comercial na Avenida Tancredo Neves], mas isso aqui é só a sala de administração. Temos dois outros, na verdade, três outros espaços. Temos o depósito, onde fica tudo que não usamos no dia a dia, entende, que ainda estamos em fase de organizar – toda a biblioteca de Mario, o estoque de livros, exposições etc. Se tivéssemos uma casa, seria mais fácil explicar.  E temos uma parceria técnica, no Rio de Janeiro, que é a maior de todas, onde está todo o acervo de negativos de Mario Cravo Neto.  
Você se refere ao acervo doado em 2015 ao Instituto Moreira Salles?
É uma parceria que foi  muitíssimo importante pra gente, porque ela permite, em primeiro lugar, um desprendimento. É algo extremamente valioso e que dinheiro nenhum paga. Não adianta colocar aqui e pagar um seguro, porque se pegar fogo ali do lado acabou.  Esse dinheiro não serve para nada aqui, o que serve aqui é a memória. Então foi realmente muito importante essa parceria, que  é apenas técnica. Todos os direitos autorais foram preservados. Pertencem aos herdeiros de Mario e ao nosso instituto. Mas ela permite que os originais estejam guardados da melhor forma possível. E eles já estão sendo digitalizados em sua totalidade. Temos ainda  uma parceria de edição de três livros, ao longo dos  dez anos do contrato, e inúmeras  exposições programadas. Então aqui é apenas um dos três satélites. Ou se pode dizer que lá é o centro e aqui é um satélite. Seja como for, são três espaços  em que trabalhamos para manter isso aqui. 
São quantos itens no total? Fala-se em  um acervo de  mais de 100 mil peças.
Na verdade, são 94 mil itens. Isso compõe  a totalidade do acervo de originais dele. Mas isso, obviamente, depois, trabalhando, já identificamos que existe muito mais. Identificamos, por exemplo, toda a parte de filmes de Mario. São centenas e centenas de horas e estamos finalizando a digitalização. Tirando o período de 60 e 70, que era super 8 e 16 milímetros, dos anos 90 para cá, já era formato de fita e são vários padrões. Todas têm em comum serem fitas magnéticas que tendem a deteriorar com o tempo, são muito frágeis. Uma das primeiras coisas que fizemos, após o acordo com o Moreira Salles, que para mim era prioridade absoluta, foi a digitalização dessas centenas e centenas de horas de filmagem. 
Qual a importância desses filmes dentro do acervo de Mario Cravo Neto?
Quando um artista morre, a obra dele termina. O que eu quero dizer com isso é que tudo que ele deixou, seja um rabisco no papel ou uma peça finalizada, tudo tem o mesmo valor, artisticamente, entende. Não somos um instituto com fins lucrativos, mas uma instituição de preservação de memória. Então esse se tornou um ponto extremamente importante para mim. Essas fitas, após a digitalização, irão também para o Instituto Moreira Salles, virão para cá, irão para a Associação  Videobrasil, em São Paulo. A ideia é diversificar, até mesmo por uma questão de segurança, inclusive os locais de armazenamento. Aproveitar que o vídeo e a fotografia são, por natureza, expressões de múltiplos, que você pode copiar, e espalhar isso, distribuir entre as parcerias.    
O instituto já promoveu alguma grande exposição deste acervo?
Desde outubro de  2009, quando Mario morreu, eu já sabia que haveria um instituto, mas, naquele momento, obviamente, o instituto  era eu, eu era o representante e continuo sendo, embora considere que esta seja uma instituição independente. Hoje, temos CNPJ, sede, conselho, mas o que importa é a cabeça de quem está à frente. Fizemos uma exposição no Instituto Tomie Ohtake, quando ele morreu. E essa mesma exposição veio para Salvador, adaptada, para o Palacete das Artes. Depois, fizemos  a maior de todas as exposições na Pinacoteca de São Paulo. E  uma outra ainda na Espanha, no Jardim Botânico de Madri, um espaço fantástico e com uma visitação recorde, durante o festival PhotoEspaña.  A primeira exibição solo de mario Cravo Neto no Reino Unido aconteceu em 2016 no Rivington Place, (fotos).
Haverá também um prêmio de fotografia que será criado pelo instituto?
Sim, mas ainda está em formatação. Não sabemos, por exemplo, se será nacional ou internacional. Quero chamar a atenção para o instituto, mas é sobretudo, e acima disso, retribuir a ajuda que nós tivemos.  Eu não recebo mais prêmios, sofro um castigo por mérito. Mas já recebi vários. Todo artista precisa de incentivo. Entre as décadas de 50 e 70, meu pai só recebia recusas. Mas ele foi combatendo a ponta de faca. Tamanha a crença que o artista tem em sua obra. Penso que o incentivo é mais que fundamental, é até mesmo obrigatório para quem também o recebeu. Afinal, quem escreve a história do país não é o governo, são as pessoas.
Quais os próximos  projetos? O que vocês estão planejando neste momento?
Agora, que o instituto existe no sentido físico e no sentido da labuta,  é organizar, tomar pé do que tem. Hoje em dia vivemos uma era de smartphones, de WhatsApp, não temos mais  memória. Garanto com a mesma certeza de que amanhã irá amanhecer que, daqui a 40 anos,  as mensagens que troquei no WhatsApp há minutos atrás não irão existir.  Mas as cartas que meu pai e meu avô mandavam e recebiam, sim. Pode rasurar, amassar, cair café em cima, mas elas vão estar lá. E, por meio delas, tenho descoberto um outro Mario Cravo Neto. É como ter a chave daquele quartinho que era só dele. Então você aprende não só outras facetas do artista, mas, como filho, aprendo um outro Mario que  eu, às vezes, desconhecia.
Uma experiência forte.
Uma experiência muito frutífera, muito forte, mas eu acho também que  [silêncio] tem que existir a compreensão de que cada um está no lugar certo e na sua realidade.  Tenho amigos em São Paulo que me disseram assim: “Poxa, cara, você vai gastar dois anos de sua vida cuidando das coisas de seu pai. E a sua carreira?”. E eu acho isso tão bobo, porque isso também faz parte da minha carreira. Minha família faz parte. Eu tenho a vaidade do artista, óbvio, mas não essa  vaidade e ganância de me projetar. Essa aqui é uma história única. Quem fala, quem não entende, não percebe o quanto é mágico fazer parte disso tudo. Agora, como meu pai falou antes de morrer, não posso sacrificar a minha carreira em função dele. E concordo plenamente com ele e me policio em relação a isso. Mas também pode ter sido desespero dele ao falar isso. Nunca saberei ao certo. O que sei é que  cada um se firmou de sua forma nesse métier e que cabe a mim essa tarefa como parte da minha carreira. A arte é a soma do intelecto e da vivência do artista. Esse processo aqui irá somar e, certamente, dará origem a algum trabalho. 
O que te levou para a África?
É curioso  como tudo na vida se sobrepõe. O que me levou à África foi justamente a briga familiar que tivemos em torno do que fazer com as coisas de meu pai. Essa briga me criou certa repulsa e me levou para a África. Decidi deixar a briga aqui e ir em busca de fazer outras coisas, de uma fotografia mais contemplativa, que me permitisse muita espera, para que eu pudesse pensar, refletir. A África nasceu disso, além da necessidade que eu sentia naquele exato momento de me reinventar. Agora, veja, que tomo conta das coisas de meu pai,  meu novo projeto é voltado exclusivamente para  meu núcleo familiar, que é minha mulher e minhas três filhas. São fotos muito parecidas com as da África, mas são exclusivamente de minhas filhas. É um trabalho em que eu busco uma composição estética, poética e intelectual. É isso que estou atualmente fazendo. São questões que não temos como responder imediatamente. 
Como você situa nesse contexto o projeto de Mariana (MG)?
Nasceu por outras razões. O país estava em convulsão, e eu, como cidadão, muito curioso como artista, senti a necessidade de fazer aquele registro. É semelhante a um projeto que tenho hoje com o Filhos de Gandhy. Dá vontade de chorar olhando fotos deles de 50 anos atrás e não sabemos se, daqui a 50 anos, ainda existirá Filhos de Gandhy. Então o projeto de Mariana nasceu disso, dessa necessidade de identificar momentos que precisam de registro. Não nos cabe julgar, mas identificar esses momentos. Eu quis vivenciar, quis registrar aquilo ali, sempre com muito cuidado para que não tivesse uma pegada imediatista. Foi como o terremoto no Haiti. Esperei um mês para que toda a imprensa fosse embora, todo aquele ‘abutrismo’ de criar ibope. Passei poucos dias lá e queria exatamente aquilo que se vê no livro, são registros... do que ficou. Eu havia ido antes a Pompeia, no sul da Itália, e foi o mesmo sentimento. Pompeia foi soterrada por pó vulcânico e Mariana, por lama. E o tempo ficou parado ali, às 16h, quando a barragem rompeu. O livro foi consequência. Se sobrar um, daqui a muitos anos, já terá válido a pena. É uma ponte entre o passado e um futuro que a ninguém pertence.
Sobre o livro Luz e Sombra, sentimos que há uma suavidade muito grande e uma predominância de texturas. Como é o seu processo criativo? 
Cada trabalho que faço é tanto uma consequência de algo em minha vida quanto  da minha vida como cidadão, como indivíduo. A coisa com a vida particular se funde, é costurada em torno da minha existência. No caso desse livro, sendo como sou, o terceiro numa linhagem de artistas, sempre fui autocrítico em relação a não repetir os moldes, os padrões de meus antecessores, meu pai e meu avô. Claro que quando somos crianças... vou te mostrar uma coisa (para e traz uma pequena escultura em bronze de um cavalheiro medieval). Você poderia jurar que foi meu avô que fez nos anos 50. No entanto, foi meu pai aos 12 ou 13 anos. Isso é uma fase, um estalar de dedos, a partir de certa idade é preciso criar, achar seu caminho. Por isso, enveredei pelo fotodocumentarismo.  Meu pai fazia fotos montadas, como a crítica dizia, esculturas em fotos. Quando ele morreu, ficou um vazio. Fiquei numa extremidade e meu avô na outra. E 50 anos nos separando. 
Então é muito natural, até um sentimento humano, de filho, que eu me desse a liberdade de escorregar um pouco no terreno de meu pai, naquele terreno que  eu ferozmente me recusava a entrar. Isso tirou um peso crítico da minha percepção artística. Porque era um questionamento de quando ele estava vivo. Ficou uma lacuna, e isso é energia. Esse trabalho da África foi uma espécie de ode ao trabalho de meu avô, muito mais que ao de meu pai. Quis, obviamente, numa percepção documental, registrar a dualidade da vida, que é totalmente humana, mas que é própria da natureza. Eu queria me aproximar da beleza desse drama. Mas, esteticamente falando, posso mostrar diversas obras de meu avô que são influenciadas por animais. Há uma correlação. Este é um trabalho no qual, apesar de ser muito diferente, eu me permiti a aproximação de uma estética já usada em minha família. Mas, claro, é preciso ter um olhar muito acurado e conhecer profundamente o trabalho dos três – que poucos conhecem – para perceber que ali há uma fusão.

Projetos de Estações de Metrô de Salvador concorrem a prêmio internacional


Projetos de arquitetura de 68 países estão concorrendo a diversos prêmios no Festival Mundial de Arquitetura deste ano, incluindo quatro brasileiros.

As 4 estações de metrô de Salvador projetadas por de João Batista Martinez Correa, concorrem na categoria transportes, enquanto a Casa Triângulo, De São Paulo e assinada pelo escritório Bernardes Arquitetura, está entre as finalistas na categoria habitação.


Guilherme Torres, de São Paulo, disputa dois prêmios: o de melhor espaço de trabalho com seu escritório e o de melhor espaço comercial de uso misto, com o projeto Retrofit Melhoramentos
O Festival Mundial de Arquitetura de 2017 acontece em Berlim em novembro. No site especializado dezeen você pode conferir todos os indicados.
Poucos meses depois de a parceria público‑privada CCR Metrô Bahia vencer a concessão para construir e operar o metrô da capital baiana, no segundo semestre de 2013, teve início um período de trabalho frenético no JBMC. Foi à equipe do escritório paulistano liderado pelo arquiteto João Batista Martinez Corrêa que a Promon Engenharia (contratada pela concessionária) recorreu para projetar a arquitetura das estações a serem implantadas ao longo dos mais de 20 quilômetros da futura linha 2.
O trajeto, que tem início na estação Acesso Norte (onde as linhas 1 e 2 se integrarão), junto à Rótula do Abacaxi, estende-se, na maior parte, pelo canteiro central da avenida Paralela, indo até o aeroporto internacional. Além da Acesso Norte, a encomenda estabeleceu que o JBMC desenhasse a as estações Detran e Rodoviária/Iguatemi - que têm concepções diferenciadas.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Lançado em Salvador o livro "Luz e Sombra", de Christian Cravo

Uma África plástica. Uma África inventiva. Uma África anti-clichê. O fotógrafo Christian Cravo revela sua visão do continente africano no livro “Luz e Sombra” lançado ontem na Paulo Darzé Galeria, em Salvador. 
Foi apresentada também a mostra fotográfica composta por 28 fotografias em preto-e-branco, resultado de várias incursões de Christian Cravo por seis países africanos: Namíbia, Botsuana, Zâmbia, Quênia, Uganda e Tanzânia.
A exposição já passou por Nova York, e São Paulo, em 2015, tendo sido eleita a melhor mostra fotográfica do ano.
A palavra do fotógrafo
“A minha proposta é mostrar uma África diversa daquela que estamos acostumados a ver. A África não é apenas o continente negro, berço da cultura baiana, mas também é o solo que deu origem à vida”, afirma o fotógrafo.
A palavra do curador
“Há muito tempo apreciada, a fotografia de Christian Cravo é marcada pelo tratamento cuidadoso da luz e pela afro-brasilidade de uma Bahia, que ele soube celebrar, até mesmo pela influência de seu pai, Mário Cravo Neto.”
“Da Bahia vem este espírito solar em contraponto à sua cerebral ascendência nórdica.”
“As fotos nos revelam, em ângulos inesperados, animais e paisagem, de maneira insólita, importante e luminosa. Uma África que ele retrata com estes dois espíritos amalgamados, o baiano e o nórdico. Luz e sombra em contrastes, pretos, brancos e cinzas.”
A exposição já passou por Nova York, no ano de 2012, e por Salvador, onde ficou em cartaz entre setembro e novembro de 2014, no Palacete das Artes. “Há muito tempo apreciada a fotografia de Christian Cravo é marcada pelo tratamento cuidadoso da luz e pelo afro-brasilidade de uma Bahia, que ele soube celebrar, até mesmo pela influência de seu pai, Mário Cravo Neto”, diz Emanuel Araujo, curador da mostra em São Paulo. 
Sobre o artista
Nascido em 1974, Christian Cravo foi criado num ambiente artístico, em Salvador, BA. Ele é filho do artista Mario Cravo Neto (1947-2009) e da dinamarquesa Eva Christensen; e neto do renomado artista Mario Cravo Jr. 
Christian Cravo começou suas experiências com a técnica fotográfica aos onze anos, na Dinamarca, onde passou grande parte da sua adolescência. Com vinte e dois anos, voltou ao Brasil e se dedicou ao aprendizado da arte fotográfica. Nos últimos 18 anos, Christian recebeu diversos prêmios, dentre eles a bolsa Mother Jones International Fund for Documentary Photography, a bolsa de pesquisa da Fundação Vitae e a mais importante premiação de arte do mundo, o John Simon Guggenheim Fellowship para sua pesquisa sobre a fé. 
É autor dos livros: “Irredentos” (Aires editora, 2000); “Roma Noire, Ville Métisse” (Editora Autrement, 2005); “Nos Jardins do Éden” (TFA, 2010); e “Christian Cravo” (Cosac Naify, 2014).