quarta-feira, 28 de julho de 2010

Salvador realiza VI Seminário Internacional de Cinema

André Setaro*
O Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, já na sua sexta edição, está acontecendo em Salvador até o dia 31 de julho.
Organizado por Walter Lima, Waltinho, desde 2005, é um evento importante e pleno de atividades desde mostras competitivas de filmes, mesas redondas e quadradas, cursos e oficinas, retrospectivas especiais e a presença de nomes consagrados da cinematografia brasileira e internacional. Lembro do primeiro seminário, em 2005, ainda não realizado no Teatro Castro Alves, mas na Reitoria da Universidade Federal da Bahia, quando da vinda do famoso cineasta Costa-Gravas, autor de obras consagradas como Z, Estado de Sítio, Desaparecido, A confissão etc, que participou ativamente como espectador atento e também palestrante de quase todas as atividades. No último dia, no telão imenso do TCA, houve a avant-première mundial de O corte (L'écouperer).
Em 2007, participei de uma mesa sobre cinema baiano e, lá pelas tantas, Edgard Navarro se aborreceu comigo e quase fomos às vias de fato. Mas a polêmica fez sucesso e virou o acontecimento do seminário daquele ano com uma repercussão na mídia nacional - saiu uma matéria sobre o imbroglio até no Estadão. Mas, hoje, me relaciono bem com Navarro. O que aconteceu foi um fogo de palha e pertence ao passado.
Neste mesmo ano, o talentoso Marcondes Dourado resolveu realizar um espetáculo de encerramento e chamou todos os participantes do seminário para, de mãos dadas, ascenderem do fundo do poço da orquestra para que aparecessem, de repente, na beirada do palco. Apesar da beleza da mise-en-scène douradiana, para mim, que tinha tomado um comprimido para hipertensão, foi um suplício, pois tive uma baixa de tensão quando cheguei ao topo, e, se caísse, porque de mãos dadas, levaria muitos comigo. Mas consegui conter e corrigir a baixa tensional, ainda que suando frio, e, ciente do que podia acontecer, em pânico.
Mas mudando de água para vinho, neste ano o seminário programou uma mostra completa do realizador Pier Paolo Pasolini, um dos mais importantes cineastas do século passado, que preconizou o cinema de poesia em oposição ao cinema de prosa. Para ele, este é um cinema de narrativa opaca, que esconde aquele que faz o filme por meio de uma narrativa invisível, segundo a lei de progressão dramática instaurada pelo americano David Wark Griffith. Já o cinema de poesia é um cinema de desmistificação, da transparência, onde as regras gramaticais não são seguidas, permitindo ao cineasta desenvolver suas idéias através de uma liberdade na construção de suas cenas e sequências. E fazendo ver ao espectador a presença de um autor que está a fazer o filme, dando a este a consciência de estar vendo uma obra cinematográfica na qual há um narrador.
Pasolini foi polêmico na sua época e, acredito que o seja ainda hoje. Saló, por exemplo, baseado em livro do Marquês de Sade, derradeiro opus do cineasta, que morreu logo em seguida esquartejado na periferia de Roma, com seu corpo desfigurado pela passagem de um automóvel em cima dele, Saló é um filme que não permite uma unanimidade: ou se gosta ou se detesta. Mas vamos ver toda a sua rica filmografia constituída de belos e significantes exemplares, a exemplo da fábula Gaviões e passarinhos, com o célebre Totó, O evangelho segundo São Mateus, que destrói toda a iconografia tradicional dos filmes sobre a vida de Cristo, Teorema, obra magistral, Decameron, entre muitos outros.
Salvador congrega anualmente pelo menos quatro eventos de expressão: o Seminário Internacional de Cinema (organizado por José Walter Pinto Lima), geralmente em julho, a Jornada Internacional de Cinema da Bahia (organizada por Guido Araújo e que acontece em setembro), o Panorama Internacional Coisa de Cinema (organizado por Cláudio Marques no Espaço Unibanco Glauber Rocha), o Festival Sala de Arte (organizado por André Trajano e Marcelo Sá no circuito do mesmo nome, e geralmente com data em outubro).Todos concentrando uma avalanche significativa de filmes. Destes festivais, o mais antigo é a Jornada, que existe desde 1972, e, fazendo as contas, 38 anos, quase quatro décadas, mas, a rigor, 36, porque houve dois anos (1989 e 1990) em que não foram realizadas. O seminário de Lima já está na sexta edição e parece que foi ontem que começou na Reitoria. O tempo passa e, quando se percebe, as coisas, os eventos e as pessoas já pertencem ao pretérito. Há também outros eventos cinematográficos alternativos. Em Cachoeira, por exemplo, já está consolidado o festival Bahia África (organizado por Lázaro Farias).Vários cursos e oficinas estão programados, entre eles um de direção com o famoso cineasta chileno Miguel Littin. Para maiores informações sobre a programação do seminário, acesse este site: http://www.seminariodecinema.com.br/2010/index.html
* Crítico de Cinema e Professor Universitário

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um retrato fiel da Bahia se perdeu

Foto: Osvaldo Campos
Mary Weinstein*
É preciso ir à Conceição da Praia ver o estrago e, se for amante da Bahia, chorar diante do casarão desabado. Como em uma coreografia em que o que mais chama a atenção é o dançarino fora do ritmo, quem olha para a sequência de prédios do século XIX em frente ao mar é atraído pelo buraco no lugar. E que lugar! Um retrato fiel da Bahia, atrás do antigo Mercado Modelo que queimou em 1969, próximo à rampa onde aportavam saveiros, e além da Ladeira da Conceição, onde o ferreiro Zé Diabo esculpe adereços para terreiros de candomblé.
Com o desabamento, o conjunto perdeu integridade. A falta do prédio afeta a leitura do que está em volta. A Igreja da Conceição, do século XVII, ficou sem o ritmo que se mantinha como moldura. Quem for casar por ali verá os escombros da edificação. O turista, a caminho do Elevador Lacerda, se sentirá incomodado. E o empresário que tenta construir o Hilton Hotel, na casa de azulejos azuis, pensará na degradação do “cenário”, que, com uma mãozinha da prefeitura, se tornaria uma “riviera” tropical.
Tão velho quanto o desmazelo é a ladainha sobre a necessidade de se preservar a arquitetura de Salvador. A área agora mutilada é parte da poligonal classificada como Patrimônio da Humanidade em 1985. Antes, ao final dos anos 30, para protegê-la e às demais de valor cultural, Rodrigo Mello Franco de Andrade criou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mas nem o reconhecimento pela UNESCO motivou uma política de conservação eficiente.
A legislação que protege a área é clara, como poucas. O Decreto-lei nº 25 não deixa margem para dúvidas. Mas precisa ser aplicado para que possa reverter a situação de abandono dos imóveis pelos proprietários e evitar tragédias como essa, que matou uma pessoa. Embora o compromisso do Iphan, combinado com gestores municipais e do estado em 2009, tenha anunciado uma série de providências, não foram repassadas notícias subseqüentes sobre o resultado.
Com ou sem Iphan, a prefeitura tem como responsabilidades exigir a manutenção dos prédios da cidade toda, impedir construções irregulares e fazer com que a qualidade de vida exista no espaço administrado por ela. O desprezo pelo patrimônio histórico é apenas um dos aspetos dessa atitude generalizada de pretensa ignorância que assola Salvador. Não é possível que as autoridades não saibam o que significa o que estão fazendo e o que não estão fazendo.
* Doutoranda pela UFBA, é jornalista especializada em patrimônio histórico.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Novidades da Bahia

Ruy Espinheira Filho*
Um amigo distante pede-me que lhe conte novidades da Bahia. Pergunta-me, em especial, acerca do nosso desenvolvimento, nosso progresso. Respondo-lhe que, de fato, temos progredido bastante em certas coisas: no crime, por exemplo.
Sim, nunca se matou tanto na Bahia quanto nos últimos tempos. Toda a imprensa sai diariamente carregada de cadáveres: vítimas de assaltantes, sequestradores, traficantes, além das cada vez mais certeiras balas perdidas. Mata-se com imenso entusiasmo, nem mesmo delegado está a salvo. E ainda temos o secretário de Segurança para nos mostrar, com sociologias e estatísticas, como lemos neste jornal, que se trata de um progresso devidamente assegurado.
É o que se pode chamar de desenvolvimento sustentável – porque, quando os bandidos não matam, mata a polícia. A PM, por exemplo, tem uma atuação particularmente admirável – pois, além de matar, oculta os corpos. E mata logo em quantidade, da forma mais democrática possível, como aconteceu em Vitória da Conquista e em Pero Vaz, tendo direito ao fogo homens, mulheres, velhos, adolescentes, crianças.
Também vamos avançando muito na derrubada de árvores e aterramento de lagoas. Alguns reclamam, dizem que estamos acabando com a flora e a fauna, mas há sempre os insatisfeitos. Os animais não têm mais onde morar? Ora, eles se adaptam, já tem raposa comendo lixo e jiboia procurando apartamento para se mudar. Nosso amado prefeito, que é bom em autorizar derrubadas e aterramentos, não faz muito abandonou uma residência na região da Paralela para que barbeiros e escorpiões ficassem à vontade, já que não havia mais mato para eles.
Nosso progresso está a mil, de fazer inveja a paulistano, escrevi ao meu amigo. Lembrava-se ele de quando São Paulo não podia parar? Pois progrediu tanto que parou, agora o trânsito por lá está praticamente imobilizado. Mas São Paulo já não nos pode olhar com superioridade: nosso trânsito aqui está também chegando à total imobilidade.
Enfim, hoje faz gosto receber pedidos de notícias sobre a Bahia, só temos coisas boas para contar.
*Ruy Espinheira Filho – Escritor, jornalista, membro da Academia de Letras da Bahia
** Artigo publicado originalmente em Opinião do jornal A Tarde de 17.6.2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma nova forma de olhar e compreender o mundo

Lidice da Mata*
A Câmara dos Deputados prestou homenagem ao geógrafo e professor Milton Santos, um dos mais brilhantes e respeitados intelectuais do nosso tempo, que faleceu há nove anos, deixando uma imensa lacuna, mas também nos legando uma obra incomparável que hoje é referência em todo o mundo. Não é nenhum exagero dizer que Milton Santos fundou uma nova Geografia, reescreveu os fundamentos desta disciplina, nos ensinando uma nova forma de olhar e compreender o mundo.
Negro, nascido em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, nunca se deixou abater pelo racismo, pelo preconceito social e nem pelas imensas dificuldades que enfrentou ao longo dos seus 75 anos de vida. Milton Santos foi um vencedor, um mensageiro da esperança, um guerreiro da palavra que, sempre com um sorriso amável, nunca parou de lutar e nos legou um arsenal de ideias sobre a problemática do mundo globalizado e as possibilidades de construirmos um futuro melhor para todos.
Nada mais apropriado para homenagear esse brasileiro de espírito crítico e inovador do que discutir a sua obra, debater e divulgar as suas ideias. Por isso, a Comissão de Educação e Cultura, da qual eu faço parte, promoveu no mês de maio, em que se comemora o Dia do Geógrafo, um seminário que contou com a participação de muitos parlamentares e representantes do meio acadêmico.
Neste momento, em que vivemos a mais grave crise do capitalismo no mundo, considero necessária e oportuna uma reflexão sobre o pensamento de Milton Santos. Ele nos inspira novos caminhos, nos aponta o rumo de uma outra globalização, em que o desenvolvimento seja voltado para o homem e não apenas para o beneficio das corporações nacionais e transnacionais.
Brasileiro, apaixonado por sua terra, Milton Santos é um pensador universal. E nesse aspecto, devemos destacar que não foi por acaso que, em 1994, ele recebeu o Prêmio Vautrim Lud, considerado o Nobel da Geografia. Sem dúvida o coroamento de uma trajetória que começou na Bahia, onde além de professor, foi jornalista e um intelectual engajado, um combatente das causas políticas e sociais.
*Lidice da Mata – Candidata ao Senado Federal pelo Partido Socialista

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Ponte 2 de Julho

Cortejo ao 2 de Julho em Salvador - Foto: Osvaldo Campos
Claudio Carvalho*
Quando pequeno, era levado por meus pais para assistir ao desfile do 2 de Julho. Estrategicamente posicionados, esperávamos o cortejo despontar descendo o Carmo rumo ao Pelourinho. Na brincadeira do menino invocava a presença da procissão com um sonoro "apareça 2 de Julho", para mim, sintetizado nos caboclos.
Evoco essas reminiscências inspirado no artigo de Risério "A cidade e o seu Recôncavo" ( A Tarde, 26/06/2010) onde ele articula, com a habilidade de sempre, o nexo histórico-cultural entre Salvador e sua interlândia. Concordo com o autor e antevejo a possibilidade de outro resgate importante do ponto de vista da história da Bahia.
Volto ao 2 de Julho. Data emblemática da independência do Brasil consolidada aquí com a luta da gente negro-mestiça baiana ecoando os ideais de liberdade da Revolta dos Búzios de 1798 , quando foi formulada pela primeira vez a criação de uma república livre do exclusivismo colonial e da escravidão.
Acontecimentos relegados à condição de apêndice da emancipação política brasileira, omitindo o protagonismo da arraia miúda, silenciada pelos livros didáticos e pelas datas comemorativas oficiais a reverenciar heróis desterritorializados culturalmente, recalcando assim o passado.
A psicanálise nos ensina que a memória vale pelo esquece, sendo a insistência no lembrar o primeiro passo para esquecer - o que vale tanto para a história do sujeito quanto para o do coletivo. Mas a verdade pode ser resgatada se o que foi esquecido está escrito em outro lugar e retorna sob a forma de atos falhos, lapsos e sonhos.
E é justamente de um sonho parido como a realização de desejo que podemos imaginar uma ponte aterissando na Baía de Todos-os-Santos e reatando rizomaticamente a cidade e o seu Recôncavo através da ilha de Itaparica - territórios de batalhas pela liberdade em 1823. E assim como os caboclos eram a metomínia do cortejo cívico na minha fantasia infantil, daríamos a essa cosntução o nome de "Ponte 2 de Julho", simbolo metonímico da integração e do resgate histórico dos baianos.
* Psicanalista, professor de história e folosofia
Publicado no jornal A Tarde em 9/07/2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

3 anos do Movimento Nossa São Paulo

Quem Somos
O Movimento Nossa São Paulo foi lançado em maio de 2007 a partir da percepção de que a atividade política no Brasil, as instituições públicas e a democracia estão com a credibilidade abalada perante a população. Constatamos que é necessário promover iniciativas que possam recuperar para a sociedade os valores do desenvolvimento sustentável, da ética e da democracia participativa.
O Movimento pretende construir uma força política, social e econômica capaz de comprometer a sociedade e sucessivos governos com uma agenda e um conjunto de metas a fim de oferecer melhor qualidade de vida para todos os habitantes da cidade. Nosso propósito é transformar São Paulo em uma cidade segura, saudável, bonita, solidária e realmente democrática.
Mais de 600 organizações da sociedade civil integram o movimento, que é absolutamente apartidário e inter-religioso, não tem presidente nem diretoria, se constituiu e se expande na forma de rede.
Hoje contamos com o apoio de lideranças comunitárias, entidades da sociedade civil, empresas e cidadãos - todos interessados em participar do processo de construção de uma nova São Paulo.
Mas o Movimento quer mais. Espera contar com a participação de toda a sociedade para reunir idéias e propor ações que possam contribuir para o desenvolvimento justo e sustentável da cidade em áreas essenciais como Educação, Meio Ambiente, Segurança, Lazer e Cultura, Trabalho, Transporte, Moradia, Saúde e Serviços.
Trabalhamos por uma cidade diferente, com base em experiências vitoriosas já realizadas em Bogotá e Barcelona, entre outras. Fazer de São Paulo uma cidade melhor é tarefa de todos.


Instituto São Paulo Sustentável - Secretaria Executiva
Para colocar em prática as ações e campanhas que realiza, o Movimento Nossa São Paulo conta com o apoio profissional de sua secretaria-executiva. Sediada no bairro de Pinheiros, tem como atribuições principais a coleta dos indicadores e a atualização do Observatório Cidadão, a articulação dos GTs temáticos e regionais, a organização e a logística dos eventos, a coordenação dos processos de comunicação, o desenvolvimento e a manutenção deste portal e o gerenciamento administrativo dos recursos.
A secretaria-executiva está formalizada na figura jurídica do Instituto São Paulo Sustentável (ISPS), associação sem fins lucrativos que recebeu a qualificação de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público).
Na assembléia geral de constituição do ISPS, realizada em 22 de janeiro de 2007, foram definidas as seguintes finalidades do Instituto:
- A coordenação de ações administrativas de coleta de dados e informações para municiar trabalhos de mobilização cívico-social;
- O apoio a movimentos, iniciativas, projetos e programas que promovam o desenvolvimento sustentável, econômico, social e ambiental urbano, em especial da cidade de São Paulo.
- A promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;
- A realização de estudos e pesquisas que digam respeito às atividades supramencionadas.
Para tanto, conta com o apoio financeiro de empresas privadas, de diversos segmentos e áreas de atuação, que contribuem com investimentos em dinheiro ou doações de equipamentos.
Equipe
Airton Goes - airton@isps.org.br
Aline Redorat - aline@isps.org.br
Ana Fisch - ana@isps.org.br
Andrea Magri - andrea@isps.org.br
Clara Meyer - clara@isps.org.br
Cláudia Cabilio - claudia@isps.org.br
Elisabet de Medeiros - bet@isps.org.br
Gabriela Mekari - gabriela@isps.org.br
Guilherme Norberto - guilherme@isps.org.br
Luanda Nera - luanda@isps.org.br
Mauricio Broinizi - mauricio@isps.org.br
Oded Grajew - ograjew@isps.org.br
Paula Crepaldi - paula@isps.org.br
Zuleica Goulart - zuleica@isps.org.br

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Estaleiro em Maragojipe está assegurado

Mesmo antes do resultado da licitação da Petrobras, Consório entre Odebrecht, OAS e UTC decidiram bancar o projeto

Francisco Goés*
O Estaleiro Enseada do Paraguaçu, sociedade entre Odebrecht, OAS e UTC, vai ser construído independente do resultado das licitações bilionárias lançadas pela Petrobras para construir no Brasil um conjunto de sondas de perfuração de poços de petróleo. Os sócios do projeto apresentaram propostas para construir navios-sonda para a estatal no novo estaleiro, que vai situar-se próximo à foz do rio Paraguaçu, no município de Maragogipe, região metropolitana de Salvador (BA).
Se ganhar parte das sondas, o estaleiro baiano deve investir cerca de R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1,7 bilhão financiados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), para construir uma unidade com capacidade de processar 60 mil toneladas de aço por ano. A previsão é começar as obras no fim de 2010 e conclui-las em 24 meses, no fim de 2012. Seis meses antes do término do empreendimento, porém, o estaleiro começaria a processar aço. Um dos desafios do estaleiro, caso ganhe a encomenda da Petrobras, será erguer as instalações da unidade ao mesmo tempo em que constrói os navios-sonda.
A Petrobras ainda não divulgou o resultado das licitações das sondas, que tornou-se alvo de uma acirrada discussão. Os participantes questionaram pontos das propostas dos concorrentes. Os sócios entraram com recursos contra dois concorrentes, mas a empresa não comenta o assunto. A proposta de Odebrecht, OAS e UTC para construção dos navios-sondas considera projeto da norueguesa LMG. E a proposta também conta com a Aker Stord como estaleiro consultor. As sondas encomendadas pela Petrobras destinam-se a operar em lámina d´água de três mil metros (profundidade entre a superfície e o leito do mar).
Se não for bem-sucedido na licitação, o estaleiro deve começar com um projeto menos ambicioso e desenvolver o negócio em etapas. Nesta hipótese, o foco estaria em outras concorrências da Petrobras, inclusive a montagem de "topsides" (unidades que equipam as plataformas) para cascos já licitados pela estatal.
A lógica, portanto, é de que o investimento será de acordo com o tamanho das encomendas. Em fases seguintes, o estaleiro poderia ser expandido e chegar a 140 mil toneladas de capacidade de processamento de aço - semelhante ao do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, que tem capacidade nominal para processar 160 mil toneladas por ano. Tudo vai depender da demanda. A expectativa é que o mercado demande novas unidades de produção e perfuração nos próximos anos a partir do desenvolvimento do pré-sal. Outro cliente em potencial do estaleiro é a Odebrecht Óleo & Gás.
"O projeto das sondas é importante (para o estaleiro), mas houve decisão estratégica dos sócios de fazer a obra pois temos a área e já conseguimos a licença prévia do Ibama", diz Fernando Barbosa, diretor-superintendente do Estaleiro Enseada do Paraguaçu. Segundo ele, os sócios estão trabalhando no projeto há um ano e meio e constituíram uma sociedade, o Estaleiro Enseada do Paraguaçu S.A., com sede em Salvador. A Odebrecht tem 50% do projeto e os outros dois acionistas 25% cada um. Os acionistas do estaleiro compraram 160 hectares em Maragogipe, às margens do rio Paraguaçu, onde será erguida a unidade. A área fica próxima ao canteiro de obras de São Roque do Paraguaçu, usado pela Petrobras para a construção de plataformas.
No momento, os sócios estão negociando o empréstimo para o projeto com os agentes financeiros do FMM. As discussões envolvem Banco do Brasil, BNDES e Banco do Nordeste (BNB). "O foco maior recai sobre o Banco do Brasil, mas não tem nada definido ainda", diz Barbosa.
Reporter do Valor Econômico

A Bahia no contexto nacional

Como a Bahia se acomodou no contexto da nação brasileira?
Edivaldo M. Boaventura*
Em uma nação continental, como é o Brasil, formam-se regiões tão extensas que são mais países. O Nordeste, por exemplo, corresponde em tamanho à Argentina. A federação republicana dos estados membros possibilitou-nos a convivência nacional. Há, entretanto, a considerar as relações do Estado-federado com a região, no nosso caso com o Nordeste, assim como o seu relacionamento com a União.
Como a Bahia se acomodou no contexto da nação brasileira?
Não faz muito, pediram-me que falasse como presidente da Academia de Letras da Bahia – que responsabilidade monumental – a diplomatas sul-americanos sobre a Bahia em relação ao Brasil. Temática ampla e difícil de ser abordada. Informei logo que tínhamos o sexto PIB, acostado ao de Santa Catarina e entrei pelas dimensões espaciais e temporais, históricas e antropológicas, na tentativa, talvez, de marcar a diferença. Olhando o mapa do Brasil, temos uma visão de como a Bahia se arredondou. Bahia e Minas constituem os estados centrais por excelência com expressiva representatividade nacional. Ambos têm múltiplas vizinhanças. A Bahia possui a maior costa marítima e o maior número de estados limítrofes: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, oito no total. A vizinhança ostenta a nossa portentosa estadualidade. Com muitos desses vizinhos temos históricos e lendários limites. Com Sergipe, o sinal divisório é o Rio Real. Mas qual Rio Real? Dizem os sergipanos que é o Rio Itapicuru. Em reprimenda a Pernambuco, pela Confederação do Equador, ficamos com a comarca do São Francisco, que Minas não aceitou. A propósito dessa perda de território, existe uma ação judiciária,no Supremo Tribunal Federal, cujo advogado era Barbosa Lima Sobrinho. A região da antiga estrada de ferro de Caravelas ficou para Minas, no papel, pois continua Bahia. No que diz respeito ao Estado do Espírito Santo, a expansão da lavoura do cacau agregou à Bahia o município de Mucuri. Assim, o nosso Estado se alongou. Gilberto Freyre dizia que a Bahia era gorda e Pernambuco, magro. E Luiz Viana Filho, do alto de sua sabedoria política, nunca admitiu a menor discussão a respeito de nossas divisas.
Se tomarmos o mapa da América do Sul, o Brasil forma um primeiro arco voltado para o Atlântico, que vai do Amazonas ao Rio Grande do Sul, de costas para os Andes. Pois bem, dentro desse arco maior, forma-se um menor igualmente voltado para o mar, que começa no extremo sul de Pernambuco, costeia Tocantins e Goiás, passa por Minas e fecha no Espírito Santo; é a Bahia. Uma velha lenda indígena descrevia o Brasil como uma pomba, sendo o seu coração a Baía de Todosos-Santos. Virada para o Atlântico, a Bahia possui 1.000 quilômetros de costa. Como ocupá-la? O capitalismo internacional – portugueses, espanhóis e suecos – adquire grande glebas. Um cordão de areia branca acompanha o litoral.
A dimensão geográfica junta-se à histórica. O descobrimento do Brasil é uma manifestação das grandes correntes marítimas que chegam infalivelmente ao sul da Bahia, comprovam os modernos navegadores à vela. Ao “achamento” do Brasil, na Bahia, segue-se a primeira capital ou capital da maior parte do País, pois havia também o Estado do Maranhão.
Dois estados colados pelo Império unitário. A nossa independência foi resistente e heroica, pois os lusitanos tinham arraigados interesses comerciais em Salvador.
Com todas as nossas frustrações históricas, recriamos pela música e pelas letras. Jorge Amado escreveu-me em um cartão indelével: “Ruy e Castro Alves são os dois polos da cultura baiana”. Ele, o sempre amado Jorge, é o terceiro polo, nacional e internacional, como Ruy, o formulador da política multilateral brasileira. Com o tempo construímos um currículo para gastronomia. Uma cozinha para cada festa. Dendê para a Páscoa. Milho para o São João com o clássico licor de jenipapo. Assados nos encontros familiares com carneiro e bode dos sertões euclidianos.
Bahia com H, com o B do Brasil, com 1.000 quilômetros de praia. Bahia sertaneja, grapiúna, sãofranciscana...
* Educador, escritor, Presidente da Academia de Letras da Bahia. É Diretor Geral do Jornal A Tarde
Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde

terça-feira, 6 de julho de 2010

A tragédia portuária baiana

Osvaldo Campos Magalhães*
Com a implantação da Nova República, 25 anos atrás, teve início um processo de desmonte dos quadros técnicos dirigentes das companhias docas estatais, quase sempre engenheiros de portos e vias navegáveis, substituídos em todo Brasil por indicações políticas, geralmente advogados, sem qualquer experiência no setor..
(Na foto: Acesso rodoviário ao Porto de Aratu- Candeias)
Aqui na Bahia, coube ao PMDB, a primeira indicação do quadro dirigente da CODEBA nesta nova fase, com a substituição do Engenheiro Mario Antenor de Carvalho Muricy, com mais de 30 anos de serviços prestados no setor, pelo advogado Sylvio Santos Faria, advogado e professor de direito tributário na UFBA.
Com a vitória de Fernando Collor de Mello em 1989, o quadro institucional do setor portuário passa por uma profunda transformação, com a total privatização dos serviços de carga e descarga nos portos, mas, com a permanência das Companhias Docas Estatais, que assumem um novo papel de Autoridade Portuária, no modelo “Land Lord”, passando a atuarem como fiscalizadoras dos operadores portuários privados que assumem totalmente a prestação de serviços nos portos.
Tiveram início então os arrendamentos de áreas e instalações portuárias localizadas dentro dos portos públicos, que passaram a ser utilizadas pelos novos operadores portuários privados, que se credenciavam para exercer esta nova atividade de acordo com regulamentação criada pelos Conselhos de Autoridade Portuária de cada porto organizado.
Nesta nova etapa, coube ao PFL indicar o novo presidente da empresa, assumindo a direção da Codeba o advogado Cleraldo Andrade.
Com a vitória de Fernando Henrique Cardoso em 1994, volta a indicação ao PMDB que mantém a presidência da Codeba durante os oito anos de mandato de FHC, primeiro com o advogado Jorge Francisco Medauar e depois com o advogado Afrísio Vieira Lima (foto), pai do Deputado Gedell, então líder do governo FHC, que permanece por mais de seis anos como presidente da Codeba.
Diferentemente dos outros setores da economia, como o elétrico, o siderúrgico e o de telecomunicações, onde ocorreram as privatizações das diversas empresas estatais, como Coelba, Telebahia e Usiba, e a criação de Agências Reguladoras, como Aneel, ANP e Anatel, no subsetor portuário baiano não ocorreu a privatização da CODEBA, que passou a ser a principal “jóia da Coroa” para as indicações políticas no âmbito do Governo Federal na Bahia. Também não foram criadas as agências reguladoras do setor de transporte, que tinha como Ministro dos Transportes no Governo FHC, o polêmico advogado e deputado Eliseu Padilha, um dos principais responsáveis pela vitória da emenda constitucional que possibilitou a reeleição do presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, o setor portuário entra em nova dinâmica.
Inicialmente com o completo loteamento político das Companhias Docas, e, para infelicidade da Bahia, com a alta rotatividade dos presidentes da CODEBA no período. Seis nos últimos seis anos: Jorge Medauar, Geraldo Simões (mais acima à direita), Fernando Schmidt (acima ), Nilton Souza (à esquerda), Marco Antônio Rocha(foto abaixo à esquerda) e por fim, o atual José Rebouças, (foto à direita) indicação de Otto Alencar.
Mais recentemente, com a criação da Secretaria Especial de Portos, ligada à Presidência da República, o subsetor volta a ter a indicação de técnicos especializados para dirigirem as Companhias Docas e o retorno do planejamento estratégico para o setor.
Infelizmente para a Bahia, o modelo em vigor durante os últimos 25 anos, resultou em falta de investimentos e na perda de competitividade frente aos portos de Suape, Pecem e Itaquí, todos administrados pelos governos estaduais de Pernambuco, Ceará e Maranhão que colocaram a questão portuária como estratégia de governo. Nos últimos dez anos, novos terminais privativos foram implantados, como o do Moinho Dias Branco em Salvador, Miguel de Oliveira (FORD) em Candeias, Aracruz em Caravelas e Veracell em Belmonte. Frise-se que o terminal Dias Branco praticamente desativou o Porto de Ilhéus, conquistando quase toda a movimentação de grãos daquele porto.
A “tragédia”, é que, com a incapacidade da CODEBA em atender à demanda crescente, grande parte das cargas baianas passaram a serem movimentadas nos portos e terminais concorrentes, muitos deles em outros estados, como Pernambuco, Ceará, Espírito Santo e até mesmo, como no caso do café e algodão, São Paulo e Paraná.
*Engenheiro Civil (Ufba-79) e Mestre em Administração (Ufba-1995)
Editor do blog Pensando Salvador do Futuro – http://www.osvaldocampos.blogspot.com

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jogo zerado - Agora vai começar!

Ricardo Noblat*
Sabe de uma coisa? Melhor assim.
A mais recente pesquisa de intenções de voto para presidente aplicada pelo Instituto Datafolha registrou um empate técnico entre José Serra e Dilma Rousseff – 39% a 38%.
Em maio passado, ambos estavam empatados com 37%. Oscilaram dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Há 10 dias, Ibope e Vox Populi haviam dado cinco pontos de vantagem para Dilma – 40% contra 35%. No último fim de semana, o Ibope cravou 39% a 39%. Corrigiu algum “desvio de amostragem”. Eu disse de amostragem, não de comportamento.
De resto, um período de 15, 10 ou um dia é suficiente para mudar índices de intenção de voto – mais ainda quando os eleitores permanecem indiferentes à eleição. Estavam ligados na sorte do Brasil na Copa do Mundo.
O time de Dunga afundou depressa. Imagine só se o de Serra ou de Dilma tivesse afundado antes do início oficial da campanha. Ou do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão marcado para o dia 17 de agosto.
Convenhamos: a eleição perderia sua graça. Não para os eleitores. Mas para nós, jornalistas. E para os políticos. E para lobistas e homens de negócios. E para caçadores de empregos.
Ah, se o distinto público soubesse como se faz política - os interesses inconfessáveis que se escondem por trás dela, o que move tanta gente a disputar cargos, como os candidatos são escolhidos e alguns aceitam concorrer sem acreditar em suas próprias chances.
Você acha, por exemplo, que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) queria ser candidato outra vez ao governo de Pernambuco? Pois será para que o PSDB nacional tenha um palanque no Estado.
Jarbas acredita que derrotará Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição? Acredita em uma vitória de Serra? Somente se a campanha de Serra fosse radicalmente reformulada, confessou ele outro dia numa roda de amigos em Brasília.
Haverá reformulação? Jarbas duvida. Então por que ele é candidato a uma derrota mais ou menos certa? Porque é amigo de Serra. Porque tem mais quatro anos de mandato como senador e não ficará ao relento.
Geddel Vieira Lima (PMDB) (foto) é candidato ao governo da Bahia porque se perder sairá candidato daqui a dois anos à prefeitura de Salvador. E candidato forte. Caso se eleja prefeito ocupará o cargo durante dois anos à espera da próxima eleição para governador.
A Câmara dos Deputados não o atrai mais. É moço. Quer governar seu Estado.
Mais moço do que ele é Indio da Costa (DEM), o vice de Serra. Não se imagina vice. O DEM imagina vê-lo como prefeito do Rio e, mais adiante, governador.
As pesquisas Datafolha e Ibope salvaram Serra de ser largado de mão antes do tempo. Para quem em junho protagonizou tantos programas e comerciais de partidos políticos no rádio e na televisão, ele deveria ter aberto uma vantagem de cinco ou mais pontos sobre Dilma.
Ficou com o mesmo tamanho que tinha em maio, segundo o Datafolha. Empatou com Dilma depois de estar perdendo para ela, segundo o Ibope.
Os que torcem por Serra voltaram a se animar – e com razão, vá lá.
Serra é um político experiente e cerebral. Muito antes de admitir de público sua candidatura, procurou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que sabia que perderia a eleição para Lula. Venceria com folga mais uma eleição para governador de São Paulo.
Fernando Henrique o convenceu a enfrentar Lula em nome dos superiores interesses políticos e econômicos paulistas que hoje controlam o PSDB. E que seguirão controlando o partido e o governo estadual com Geraldo Alckmin.
É fato também que Serra gostou de uma pesquisa encomendada pelo PSDB e destinada a provar que ele deverá derrotar Lula – quer dizer, e com todo o respeito, o poste escolhido por Lula para sucedê-lo.
Política não é só pragmatismo. É também um espaço fértil para sonhos e ilusões. E vai que o poste, de repente, apaga sei lá por quê.
* Publicado originalmente no blog do autor

domingo, 4 de julho de 2010

Metas para os governos

Oded Grajew*
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O que quase sempre ocorre é a confecção de programa elaborado na última hora pela equipe de marketing da campanha, sem metas
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Estamos às vésperas de novas eleições no Brasil. A escolha pelos eleitores do presidente da República e dos governadores deveria, supostamente, ser baseada no programa de governo dos candidatos. Entretanto, o que quase sempre acontece é a confecção de um programa elaborado na última hora pela equipe de marketing da campanha com o objetivo de servir de recheio à propaganda eleitoral. Passadas as eleições, praticamente ninguém, nem eleitor nem eleito, se lembra dos programas de governo, e não há nenhuma forma legal de obrigar os eleitos a cumprir suas promessas de campanha. Foi a partir dessas constatações que o Movimento Nossa São Paulo apresentou uma emenda à Lei Orgânica do Município de São Paulo, que passou a valer a partir do acolhimento dado pelo Poder Executivo e da sua aprovação pelos vereadores da cidade.
Essa emenda, chamada de lei das metas, obriga todo prefeito eleito na cidade de São Paulo a anunciar, em até 90 dias após sua posse, as metas que pretende atingir até o final de sua gestão.São metas quantitativas e mensuráveis para todas as áreas da administração pública, para cada uma das subprefeituras e distritos da cidade e precisam conter todas as promessas de campanha. As metas devem servir para promover o desenvolvimento justo e sustentável da cidade, priorizando a qualidade de vida para todos os seus habitantes. A Prefeitura de São Paulo estabeleceu 223 metas para a sua gestão e criou um site que disponibiliza informações sobre o andamento de cada uma delas. É bem verdade que nem todas as metas atendem integralmente ao que diz a lei. Há algumas metas de obras (por exemplo, novos postos de saúde e hospitais), mas faltam metas dos resultados esperados (o quanto diminuirão as mortalidades infantil e materna graças a essas obras). O mesmo acontece em algumas outras áreas da administração pública, em que faltam metas de impacto, como a redução da evasão escolar, dos congestionamentos ou de número de moradores de rua. Mas, considerando que São Paulo é a primeira cidade a aprovar e implementar a lei das metas (outras 15 cidades adotaram leis semelhantes) e o compromisso da prefeitura de aperfeiçoamento ao longo do tempo, o resultado até agora é altamente satisfatório.
Nas próximas eleições em São Paulo, cada eleitor terá dados objetivos para avaliar a gestão municipal. Os candidatos tomarão mais cuidados na hora de fazer suas promessas, pois elas, por força da lei, deverão fazer parte do programa de metas. A íntegra da lei, as metas da prefeitura e seu acompanhamento podem ser encontrados no site www.nossasaopaulo.org.br. Espero que, na campanha eleitoral de 2010, os eleitores e a mídia cobrem dos candidatos as metas quantitativas que pretendem atingir até o final de suas gestões em todas as áreas que estarão sob sua responsabilidade. Para o novo Congresso, que tomará posse em 2011, pretendemos apresentar um projeto de lei que torne obrigatória a apresentação de programa de metas para todos os candidatos a cargos executivos. Será uma verdadeira revolução em nossa cultura política e os governos terão que ter uma preocupação maior com as promessas de campanha, a eficiência da gestão, a qualidade dos serviços públicos e os resultados de suas políticas.
*ODED GRAJEW, 65, empresário, é um dos idealizadores do Movimento Nossa São Paulo e presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq.

sábado, 3 de julho de 2010

O país das vuvuzelas

Ney Campelo*
A missão técnica que o governo da Bahia empreendeu na África do Sul, objetivando conhecer e sistematizar a última experiência que antecede a Copa de 2014 resultou em importantes ensinamentos para a organização dos jogos no Brasil.
Mesmo antes de a bola rolar no estádio Soccer City, a cidade de Johanesburgo já se encontrava tomada pelos “bafanas bafanas”, misturados a povos de todo o planeta, numa festa de cores e sons, só comparada ao nosso inigualável Carnaval baiano. Ao que parece, precisei sair do Brasil e cruzar o Atlântico para ver de perto o meu primeiro Carna-Copa.
O barulho ensurdecedor das vuvuzelas como um soar de clarins, associado às coreografias coletivas, anunciava a chegada da primeira jornada esportiva mundial no continente-matriz da ancestralidade humana. Uma copa que consagra a primeira “Copa da diversidade”, pura expressão do pluralismo étnico, a união de povos e nações que, sem escamotear as desigualdades econômicas e diferenças sociais, dá uma lição de humanidade e esperança na construção de uma civilização fundada nos melhores valores éticos e estéticos.
A alegria das ruas em Sandton City, o moderno centro financeiro de Johanesburgo e a catarse humana que ocupa a Mandela Square, praça que exibe a imponente escultura do homem que usou o esporte como estratégia de superação do racismo, são de um simbolismo irrefutável quanto ao poder do futebol em elevar a autoestima de uma nação confrontando preconceitos e quebrando paradigmas quanto ao olhar primitivo vigente sobre o continente africano. A união das nações africanas é o maior legado da Copa, indiscutivelmente. O conceito do empoderamento da sociedade civil pelo esporte é relativamente novo, cuja reflexão haverá de merecer, daqui para frente, um maior interesse de políticos acadêmicos e outros agentes sociais.
O Mundial da África 2010 tem muito a nos ensinar; trata-se da realidade mais próxima do Brasil e da Bahia, tanto em termos dos desafios sociais estipulados, quanto da infraestrutura para abrigar um evento dessa magnitude, mas é necessário capturar essa identidade diferenciada, constituída no itinerário dos fluxos migratórios que marcaram a nossa construção enquanto nação. Salvador é a maior cidade negra fora do continente africano, portanto, beber na fonte dessa experiência contribui para solidificar os vínculos entre esses povos, aprendendo com os erros e acertos que marcaram a organização dos jogos de 2010. estádios, entornos, centros de treinamentos, mobilidade e acessibilidade, sustentabilidade e segurança, serviços, legados sociais, turismo e promoção foram temas observados e serão tecnicamente reportados, inclusive com workshop, que realizaremos ao final da Copa, com a participação da imprensa que cobriu os jogos.
É possível, entretanto, destacar, desde já, esse legado de caráter “imaterial”, pela convicção de que o efeito Copa na alma da nação sul-africana resultará em mudanças no ambiente socioeconômico e na constituição de vínculos geradores de importantes transformações sociais. É o que desejamos para a Bahia em 2014, quando sediaremos nossa primeira Copa, a segunda no País, porque o futebol mais que uma “religião nacional”, precisa representar uma estratégia inteligente, saudável e lúdica, de inclusão social e de desenvolvimento sustentável. Haveremos de ganhar a Copa, mas nos orgulharemos muito mais como brasileiros se ganharmos com a Copa, promovendo externalidades que nos façam cada dia mais um país de todos numa terra de todos nós.
* Secretário Extraordinário para Assuntos da Copa FIFA Brasil 2014

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A cidade da Bahia e seu Recôncavo

Antônio Risério*.
Me referi de passagem aqui, em artigo sobre o projeto da ponte ligando Salvador e Itaparica, a uma antevisão do sociólogo Luiz de Aguiar Costa Pinto: a Cidade da Bahia e o Recôncavo se encaminhando para configurar a Região Metropolitana de Salvador. O governador do Estado fala hoje da ponte Salvador-Itaparica privilegiando a perspectiva da conexão com Camamu e o “baixo sul” (algum geógrafo, aliás, bem que poderia me explicar: Camamu-Tinharé, para mim, são o alto sul; o baixo sul ficaria para Alcobaça, Prado, Nova Viçosa, etc.). Mas, de modo mais imediato, temos a integração da capital e seu Recôncavo, numa área de cerca de 10 mil km², se não me falha a memória. Aliás, a BR-242, da qual a ponte deverá ser o quilômetro zero, passa por cidades que ficam no coração do Recôncavo. E, por isso, me referi a Costa Pinto – segundo Darcy Ribeiro, a maior e mais genuína vocação de sociólogo que o Brasil já conheceu.
A Cidade do Salvador e o Recôncavo nasceram juntos. Foram siameses. Ou, como diria Joyce, numa palavra-montagem doFinnegans Wake: “siamesmos”. Wanderley Pinho, em suaHistória Social de Salvador, enfatizava isso. Senhores de engenho tanto viviam nos canaviais quanto na cidade. Membros da Câmara de Salvador moravam em terras do Recôncavo. Escravos trocavam informações, fazendo levantes lá e cá. Terreiros de candomblé surgiram em Salvador, em Itaparica, em Santo Amaro da Purificação, em Cachoeira. Enfim, Salvador e o Recôncavo foram uma entidade integrada durante séculos. Isso só foi mudar muito recentemente. Quando as atividades de prospecção e refino do petróleo se deslocaram para cidades laterais ao miolo afrobarroco do Recôncavo. E, depois, com o Centro Industrial de Aratu e o polo petroquímico de Camaçari, que desviaram as coisas para o Recôncavo Norte, inchando Lauro de Freitas e cercanias.
Mas, antes disso, o que dizia Luiz de Aguiar Costa Pinto? No texto “Recôncavo: Laboratório de uma Experiência Humana”, nosso maior sociólogo (que tem, como seus pares, Milton Santos na geografia e Kátia Mattoso na historiografia) escreveu:
“Dois grandes fatores têm operado no sentido dessa unidade [do Recôncavo]: a Baía de Todos os Santos e a Cidade do Salvador. De fato, quer no plano estritamente geográfico, quer no mais largo sentido ecológico, o golfo tem sido o ponto focal de convergência da vida dos núcleos urbanos que em torno dele se desenvolveram; de outro lado, a Cidade do Salvador, mercado consumidor, centro político-administrativo, porto e porta de passagem dos contatos e relações com o mundo, é ponto dominante na região que margeia a baía e representa, no plano econômico, social e político, o núcleo de onde partem influências aglutinadoras sobre todo o Recôncavo, que tende cada vez mais a se transformar numa grande região metropolitana cercando a sua capital, com a qual mantém laços crescentes de comércio material, social e psicológico”.
O texto de Costa Pinto foi escrito em 1951 e reescrito em 1958. Por essa época, a conexão Salvador-Recôncavo, que vinha de inícios do século 16, começava a se desarticular. Não só pelo petróleo, é bom lembrar, como em nome de uma visão imediatista do processo baiano. Hoje, no entanto, temos a perspectiva de um reatamento. Salvador e o Recôncavo podem voltar a ser siamesmos. Aliás, acho que a nova universidade do Recôncavo poderia sair na frente dessa discussão, promovendo uma ampla releitura de escritos sobre o tema, como os de Costa Pinto e Milton Santos. Geografia e sociologia que ainda têm muito a nos ensinar.
E, aqui, volto ao tema do projeto da construção da ponte Salvador-Itaparica. A ponte pode ser a peça-chave de nossa reintegração física, econômica, social e cultural. O novo elo evolutivo que falta. Hoje, numa foto área, vemos que apenas uma parte do trabalho foi feita. A ponte do Funil faz o Recôncavo chegar a Itaparica. E a foto fica capenga. Falta fazer a outra e maior parte do trabalho. Temos Funil, temos Itaparica, mas cadê a ponte para ligar a ilha e Salvador, para completar o quadro?
*Antonio Risério – Escritor
(publicado originalmente em Opinião do jornal A Tarde, em 26.6.2010)